Artigo: Um olhar sobre as manifestações e a participação social

Por | 27/06/2013

O histórico movimento que vimos nas ruas do País nessas últimas semanas revela alguns aspectos que merecem, a meu ver, certa reflexão. É notadamente importante e positivo que as pessoas exerçam sua cidadania e se manifestem democraticamente, sempre, é claro, sem violência. Isto é o exercício da democracia no Estado Democrático de Direito que, felizmente, e graças à luta de muitas(os) brasileiras(os), conquistamos. E é preciso que sejamos responsáveis por preservá-lo.

No entanto, o que seria natural em fatos como esses, e até em função da história política do Brasil após a redemocratização, as entidades sociais não participaram ou não se fizeram presentes nas manifestações.

A legitimidade de manifestações como essas tende a ser fortalecida com os movimentos sociais, que não devem ser rechaçados. Houve, por exemplo, hostilização ao movimento por moradia, que exerce um protagonismo no Brasil. E a história nos mostra que movimentos sociais sem organização perdem em legitimidade e não avançam na conquista de suas demandas, por mais legítimas que sejam.

Um outro aspecto a considerar é a ausência de alguns temas nas ruas. Um deles, historicamente presente nas manifestações nacionais, a reforma agrária, por exemplo, não entrou na pauta dos manifestantes. Por quê? Será que não é do interesse coletivo da sociedade brasileira que haja justiça social no campo?... Por que não estamos discutindo isso?

É inegável que o Brasil tirou milhões de pessoas da extrema pobreza nos últimos anos, mas ainda há milhões que desejam ingressar no mercado de consumo e ter uma vida mais digna. Para isso as políticas públicas de inclusão social devem ser mantidas, aperfeiçoadas, até corrigidas, se necessário. E certamente a população, direta ou indiretamente, pode contribuir com a construção dessa e de outras políticas públicas.

Avanços como esse mudaram a pauta das reivindicações. O problema, obviamente, não se restringe ao passe livre. A corrupção, a má qualidade da educação, da saúde, do transporte coletivo, a crítica aos partidos políticos, a PEC 37, entre outras questões, foram alvo das manifestações.

Acredito que a maturidade da nossa democracia será alcançada com o fortalecimento da participação social aliada à educação. Cabe aos governos fazerem seu papel de atender as legítimas reivindicações da população e se não puderem, que venham a público discutir com a sociedade as alternativas para que as demandas sejam atendidas satisfatoriamente.

No Estado de São Paulo, por exemplo, a falta de transparência do governo é horrorosa! Um governo que veta um projeto de transparência dos dados da educação nas escolas deveria ser alvo de manifestações públicas. O problema é que assuntos como esse parecem distantes da população, quando na verdade diz total respeito a ela.

Reafirmando o que disse a presidenta Dilma Rousseff em seu pronunciamento à Nação, “Se aproveitarmos bem o impulso desta nova energia política, poderemos fazer, melhor e mais rápido, muita coisa que o Brasil ainda não conseguiu realizar por causa de limitações políticas e econômicas”. E, de fato, enquanto não houver uma profunda reforma política em nosso país, as perspectivas são muito ruins. O atual modelo das instituições de representação política no Brasil não é o ideal e por meio da reforma poderemos aperfeiçoar as nossas instituições e a nossa democracia.

Saudações PeTistas, 

Geraldo Cruz